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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Juan Rulfo - Pedro Páramo

Juan Rulfo - Pedro Páramo




Gasto às vezes horas a analisar os códigos gerados em HTML quando submetemos uma fotografia na postagem do blog. Acho interessante analisar como o programa transforma uma imagem numa sequencia de código alfa-numérico, no caso uma elaboração de página com hiper-texto. 

Certo dia, curioso, resolvi postar algumas das mais de dez mil fotos que Juan Rulfo tirou com a sua Rolleiflex e submeter para ver o código gerado. 

Alguns exemplos das fotos submetidas e os respectivos textos gerados:






"...Era esse tempo de calor, quando o ar de agosto sopra quente, envenenado pelo cheiro podre das saponárias."





“Lá achará minha querência. O lugar que eu quis. Onde os sonhos me enfraqueceram. Meu povoado, levantado sobre a planície. Cheio de árvores e de folhas, como um cofrinho onde guardamos nossas recordações. Sentirá que ali alguém quisesse viver pela eternidade. O amanhecer; a manhã; o meio-dia e a noite, sempre os mesmos; mas com a diferença do ar. Ali onde o ar muda a cor das coisas; onde se ventila a vida como se fosse um murmúrio; como se fosse um puro murmúrio da vida…”






"Se ao menos fosse dor o que ela sentia, e não esses sonhos sem sossego, esses intermináveis e esgotantes sonhos, ele poderia buscar-lhe algum consolo. Assim pensava Pedro Páramo, fixa a vista em Susana San Juan, seguindo cada um de seus movimentos. O que aconteceria se ela também se apagasse quando se apagasse a chama daquela débil luz com que ele a via?"





"-Este povoado está cheio de ecos. Parece que estiveram presos no oco das paredes ou debaixo das pedras. Quando você caminha, sente que lhe vão pisando os passos. Ouve rangidos. Risos. Uns risos já muito velhos, como cansados de rir. E vozes já desgastadas pelo uso. Tudo isso você ouve. Penso que chegará o dia em que estes sons se apaguem."


Ninguém gosta de Pedro Páramo, e quem disser o contrário está mentindo. A estrutura é intrincada e inovadora, é verdade, mas é chata. Uma história sem narrador, com infinitas contradições, elipses absurdas e sem sentido, com múltiplas vozes e vários níveis de narração fragmentadas; um filho legítimo que está morto, assim como pai que matou a mãe, que matou uma cidade inteira, que por conseguinte , morta, continua viva, graças aos habitantes, que incapazes de entenderem que estão mortos, atormentam os forasteiros que raramente cruzam a cidade insepulta.

Não gosto de Pedro Páramo, mas gosto de Juan Rulfo. Gosto mais do fotógrafo, do que do escritor. Aliás, tenho certeza que Juan Rulfo não teria escrito nada se soubesse que passados alguns anos suas fotos poderiam ser submetidas a um programa qualquer e automaticamente traduzidas em texto. 




 

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