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quarta-feira, 14 de maio de 2014

Aluísio de Azevedo - O Cortiço

Aluísio de Azevedo - O Cortiço




Nasci em Brasília, fui viver para o Rio de Janeiro com cinco anos; vivi 25 anos ali dentro daquele buraco chamado Zona Sul; raras vezes visitei uma favela, mas fui assaltado 4 vezes, algumas com pistola; estudei em colégios privados e até a universidade que cursei era privada; tinha alguns amigos negros, mas poucos; fui o típico garoto da mamã, crescendo num ambiente de classe média alta; tinha o apoio da minha família grande, bem estruturada, feliz. Essas são as minhas raízes.



As raízes do Morro do Alemão estão no cortiço Cabeça de Gato.



Quando vejo Tropa de Elite, Bope subindo morro, bala perdida, extermínio, exército controlando a cidade por causa da Copa, sinto sempre vontade de voltar a ler O Cortiço.



Escrito há 125 anos, Aluísio de Azevedo foi o primeiro a transformar em literatura as raízes do maior problema que o Rio iria enfrentar ao longo do sec. XX: a geminação, desenvolvimento, multiplicação e crescimento dos seus minúsculos cortiços.



As favelas vieram dos cortiços e os cortiços nasceram da desigualdade. Aluísio deu a pista: é possível um cortiço virar uma Avenida São Romão, mas é preciso para isso mexer na estrutura e a estrutura está na desigualdade. Do contrário, um cortiço será sempre um cortiço, uma favela será sempre uma favela, imutável, mesmo que tenha sido “pacificada”.

 

Como será o morro do Alemão daqui a 120 anos? Pacificado ou explosivo?  Será mais parecido com a Avenida São Romão ou com o Cabeça de Gato? Penso que o mais provável, se não se resolver a questão da desigualdade – de renda, de acesso a educação, de saúde, etc... – é que ali dentro João Romão continue matando e que o comendador Miranda continue esfolando, e que todas as Ritas Baianas ainda sejam pobres e exploradas física e emocionalmente.

Como um livro puxa o outro, deixo como curiosidade de leitura o livro "O preço da desigualdade" do Nobel Stigls e um outro bem fresquinho e acabado de chegar nas prateleiras, mas revolucionário em termos de conceito, " O capital do século XXI" de Piketty.




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