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sexta-feira, 18 de abril de 2014

David Foster Wallace - Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo

David Foster Wallace - Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo



Tive uma vez contato pessoal com David Foster Wallace. Foi em NY num PUB irlandês em 1996. Estava com mais dois amigos e ele estava com uma gata, que dizia ser a esposa do seu agente. Logicamente não fazia a mínima ideia de quem o homem era, mas ele me chamou logo a atenção por estar bêbado como um gambá e ser um cara altamente engraçado. Saltava com um exemplar de Infinite Jest e dizia, o seboso, que ele havia escrito aquela porcaria e que, melhor ainda, por ter conseguido editá-lo iria ficar famoso e rico. Em qualquer PUB do mundo, encharcados de Guiness, viramos amigos íntimos de qualquer pessoa num estalar de dedos. Quando dei por mim, estávamos todos nós, Macarrão, Gustavinho, Piolho, o próprio Wallace e a peituda da amiga dele, pulando como pipocas e cantando algo parecido com isso

“Agora que todos já estão mortos, até que nossas lágrimas sequem Nós vamos beber, beber, beber e depois beber um pouco mais, Vamos dançar, cantar e brigar até de manha, e então vamos vomitar, desmaiar e beber tudo de novo! “ 

Não me lembro minimamente do que conversamos, porque estávamos todos aos gritos por causa da música alta. Por fim, ao sair do PUB, depois de nos dar valentes abraços e tapas nas costas, notei que o homem havia esquecido o livro. Ainda tentei alcançá-lo, mas nunca mais o vi. Nem retive o livro, dei aquele enorme e pesado tijolo ao mendigo que me pedia a última gota da minha cerveja. Olhei para trás e vi o mendigo, revoltado, enfiando o livro na cabeça do outro, como uma arma.


Só fui descobrir quem o bêbado era quando se matou, em 2008, enforcando-se. A notícia da sua morte enlaçou-me naquela tragédia. Houve uma conectividade imediata, digamos encovada. Desde então passei a ler tudo o que ele havia escrito e posso dizer que, se pudesse escolher, enforcava-me a mim para salvá-lo. Nesse livro que apresento, Daniel Galera propõe uma coletânea de textos curtos de não ficção. Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo, o famoso “texto do navio”, uma palestra sobre Kafka, uma crônica sobre o tenista Roger Federer, e, o melhor de todos: “Pense na lagosta”. Daniel Galera é um gênio: o melhor de Wallace não está na sua ficção, mas sim nas suas reportagens ficcionadas.



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