Juan Rulfo - Pedro Páramo |
Gasto às vezes horas a analisar os códigos gerados
em HTML quando submetemos uma fotografia na postagem do blog. Acho interessante
analisar como o programa transforma uma imagem numa sequencia de código alfa-numérico,
no caso uma elaboração de página com hiper-texto.
Certo dia, curioso, resolvi postar algumas das
mais de dez mil fotos que Juan Rulfo tirou com a sua Rolleiflex e submeter para
ver o código gerado.
Alguns exemplos das fotos submetidas e os respectivos textos gerados:
"...Era esse tempo de calor, quando o ar de
agosto sopra quente, envenenado pelo cheiro podre das saponárias."
“Lá achará minha querência. O lugar que eu
quis. Onde os sonhos me enfraqueceram. Meu povoado, levantado sobre a planície.
Cheio de árvores e de folhas, como um cofrinho onde guardamos nossas
recordações. Sentirá que ali alguém quisesse viver pela eternidade. O
amanhecer; a manhã; o meio-dia e a noite, sempre os mesmos; mas com a diferença
do ar. Ali onde o ar muda a cor das coisas; onde se ventila a vida como se
fosse um murmúrio; como se fosse um puro murmúrio da vida…”
"Se ao menos fosse dor o que ela sentia, e não
esses sonhos sem sossego, esses intermináveis e esgotantes sonhos, ele poderia
buscar-lhe algum consolo. Assim pensava Pedro Páramo, fixa a vista em Susana
San Juan, seguindo cada um de seus movimentos. O que aconteceria se ela também
se apagasse quando se apagasse a chama daquela débil luz com que ele a via?"
"-Este povoado está cheio de ecos. Parece que
estiveram presos no oco das paredes ou debaixo das pedras. Quando você caminha,
sente que lhe vão pisando os passos. Ouve rangidos. Risos. Uns risos já muito
velhos, como cansados de rir. E vozes já desgastadas pelo uso. Tudo isso você
ouve. Penso que chegará o dia em que estes sons se apaguem."
Ninguém gosta
de Pedro Páramo, e quem disser o contrário está mentindo. A estrutura é intrincada
e inovadora, é verdade, mas é chata. Uma história sem narrador, com infinitas
contradições, elipses absurdas e sem sentido, com múltiplas vozes e vários
níveis de narração fragmentadas; um filho legítimo que está morto, assim como
pai que matou a mãe, que matou uma cidade inteira, que por conseguinte , morta,
continua viva, graças aos habitantes, que incapazes de entenderem que estão
mortos, atormentam os forasteiros que raramente cruzam a cidade insepulta.
Não gosto de
Pedro Páramo, mas gosto de Juan Rulfo. Gosto mais do fotógrafo, do que do
escritor. Aliás, tenho certeza que Juan Rulfo não teria escrito nada se
soubesse que passados alguns anos suas fotos poderiam ser submetidas a um
programa qualquer e automaticamente traduzidas em texto.
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