Aluísio de Azevedo - O Cortiço |
Nasci em
Brasília, fui viver para o Rio de Janeiro com cinco anos; vivi 25 anos ali
dentro daquele buraco chamado Zona Sul; raras vezes visitei uma favela, mas fui
assaltado 4 vezes, algumas com pistola; estudei em colégios privados e até a
universidade que cursei era privada; tinha alguns amigos negros, mas poucos; fui o típico
garoto da mamã, crescendo num ambiente de classe média alta; tinha o apoio da
minha família grande, bem estruturada, feliz. Essas são as minhas raízes.
As raízes do
Morro do Alemão estão no cortiço Cabeça de Gato.
Quando vejo Tropa
de Elite, Bope subindo morro, bala perdida, extermínio, exército controlando a
cidade por causa da Copa, sinto sempre vontade de voltar a ler O Cortiço.
Escrito há 125
anos, Aluísio de Azevedo foi o primeiro a transformar em literatura as raízes
do maior problema que o Rio iria enfrentar ao longo do sec. XX: a geminação,
desenvolvimento, multiplicação e crescimento dos seus minúsculos cortiços.
As favelas vieram
dos cortiços e os cortiços nasceram da desigualdade. Aluísio deu a pista: é
possível um cortiço virar uma Avenida São Romão, mas é preciso para isso mexer
na estrutura e a estrutura está na desigualdade. Do contrário, um cortiço será
sempre um cortiço, uma favela será sempre uma favela, imutável, mesmo que tenha
sido “pacificada”.
Como será o morro
do Alemão daqui a 120 anos? Pacificado ou explosivo? Será mais parecido com a Avenida São Romão ou
com o Cabeça de Gato? Penso que o mais provável, se não se resolver a questão
da desigualdade – de renda, de acesso a educação, de saúde, etc... – é que ali dentro João
Romão continue matando e que o comendador Miranda continue esfolando, e que
todas as Ritas Baianas ainda sejam pobres e exploradas física e emocionalmente.
Como um livro puxa o outro, deixo como curiosidade de leitura o livro "O preço da desigualdade" do Nobel Stigls e um outro bem fresquinho e acabado de chegar nas prateleiras, mas revolucionário em termos de conceito, " O capital do século XXI" de Piketty.
Como um livro puxa o outro, deixo como curiosidade de leitura o livro "O preço da desigualdade" do Nobel Stigls e um outro bem fresquinho e acabado de chegar nas prateleiras, mas revolucionário em termos de conceito, " O capital do século XXI" de Piketty.
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