David Foster Wallace - Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo |
Tive uma vez contato
pessoal com David Foster Wallace. Foi em NY num PUB irlandês em 1996. Estava com
mais dois amigos e ele estava com uma gata, que dizia ser a esposa do seu
agente. Logicamente não fazia a mínima ideia de quem o homem era, mas ele me
chamou logo a atenção por estar bêbado como um gambá e ser um cara altamente
engraçado. Saltava com um exemplar de Infinite Jest e dizia, o seboso, que ele havia
escrito aquela porcaria e que, melhor ainda, por ter conseguido
editá-lo iria ficar famoso e rico. Em qualquer PUB do mundo, encharcados de Guiness, viramos amigos
íntimos de qualquer pessoa num estalar de dedos. Quando dei por mim, estávamos
todos nós, Macarrão, Gustavinho, Piolho, o próprio Wallace e a peituda da amiga
dele, pulando como pipocas e cantando algo parecido com isso
“Agora que todos já estão mortos, até que
nossas lágrimas sequem Nós vamos beber, beber, beber e depois beber um pouco
mais, Vamos dançar, cantar e brigar até de manha, e então vamos vomitar,
desmaiar e beber tudo de novo! “
Não me lembro minimamente do que conversamos, porque estávamos todos aos gritos por causa da música alta. Por fim,
ao sair do PUB, depois de nos dar valentes abraços e tapas nas costas, notei
que o homem havia esquecido o livro. Ainda tentei alcançá-lo, mas nunca mais o
vi. Nem retive o livro, dei aquele enorme e pesado tijolo ao mendigo que
me pedia a última gota da minha cerveja. Olhei para trás e vi o mendigo,
revoltado, enfiando o livro na cabeça do outro, como uma arma.
Só fui descobrir quem o bêbado era quando se matou, em 2008, enforcando-se. A notícia da sua morte enlaçou-me naquela tragédia. Houve uma conectividade
imediata, digamos encovada. Desde então passei a ler tudo o que ele havia
escrito e posso dizer que, se pudesse escolher, enforcava-me a mim para salvá-lo.
Nesse livro que apresento, Daniel Galera propõe uma coletânea de textos curtos
de não ficção. Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo, o
famoso “texto do navio”, uma palestra sobre Kafka, uma crônica sobre o tenista
Roger Federer, e, o melhor de todos: “Pense na lagosta”. Daniel Galera é um
gênio: o melhor de Wallace não está na sua ficção, mas sim nas suas reportagens
ficcionadas.
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